
Quando tinha cerca de 11 anos, o meu pai fundou a sua empresa de madeiras, onde comprou um motosserra e um camião para transportar a madeira. Naquela altura não existia grande disponibilidade financeira e enfrentamos muitos desafios. Desde cedo que comecei a ajudá-lo no que podia fazer.
Comecei a trabalhar com o machado, depois passei a ser medidor até que cheguei a motosserrista. Com o evoluir da empresa o meu pai comprou um trator com grua. A mecânica, que era essencial para o funcionamento da empresa, era feita em casa, onde eu estava presente e sempre pronto para por as mãos na massa. Com cerca de 16 anos reparei o distribuidor hidráulico e a bomba de pistons do trator. Fazíamos tudo em casa, mudar vedantes, retentores, rolamentos, tudo o que fosse necessário. Às vezes era difícil pois o conhecimento era pouco e íamos aprendendo apenas com a necessidade de continuar, e sim, algumas vezes em vez de consertar partíamos as coisas, era a fórmula que tínhamos instalada para suprimir as necessidades. Claro que tudo isto me deu conhecimento a nível da mecânica, não era um conhecimento teórico, mas sim um conhecimento prático.
Depois desta entrada na vida, sempre tive trabalhos relacionados com máquinas e camiões, onde, além de ser o manobrador, tudo o que fosse problemas relacionados com mecânica que eu conseguisse resolver, eram solucionados. Conduzi trator, retroescavadora, giratória, manitou telescópico, cilindro, bobcat, forwarder, camião, operei diversas gruas, enfim fiz o possível para chegar até aqui.
Nos transportes internacionais também adquiri bastante conhecimento, conheci países que de outra forma não teria conhecido, andei por Portugal, Espanha, França, Itália e Suíça. Conheci culturas diferentes da portuguesa. O contacto com outras línguas, que tu não dominas nem um bocadinho, no entanto tens que pedir indicações, pois na altura ainda não existia o GPS. Com estas condições és obrigado a desenvolver uma forma básica de comunicação, pareces um homem das cavernas onde comunicas através de riscos em papel e linguagem gestual, bem ajam as pessoas com quem me cruzei. Quando pedias comida sabias que ia ser uma surpresa, pois não fazias a mínima ideia do que estava escrito. Grandes aventuras, grandes descobertas, pensava muitas vezes que mesmo assim não estava pior do que os portugueses que fizeram os descobrimentos, porque pelo menos eu tinha um mapa e os países tinham placas com indicações, já só tinha que descodificar a informação.
Transportei madeiras, tijolos, blocos de betão, azulejos, máquinas, gruas, areia, terra, alcatrão e em cisternas transportei sulfato de sódio, cimento, cinza, feldspato, areia, gesso, carvão, cal e outros produtos que de momento não me lembro.
Com as máquinas abati árvores, cavei terrenos, fiz desaterros, abri alicerces e tantas outras coisas. Em cada tarefa aprendia sempre algo de novo.
Quando comecei a operar máquinas tecnologicamente mais avançadas aprendi a calibrar comandos e ajustar variáveis para que as máquinas correspondessem às minhas expectativas.
Todas estas experiências foram contribuindo para o meu conhecimento e entendimento das coisas, sendo que percebes que existe um elemento que está sempre presente em tudo o que fazes. A física. No nosso mundo é impossível fugir à física, seja a conduzir, a dormir, a comer, a correr, a beber um copo com amigos.
A minha vida teve uma mudança radical em 2014 após sofrer um acidente que me deixou sem visão no olho esquerdo. Depois da recuperação continuei a trabalhar como operador, no entanto as dificuldades eram grandes.
Em 2016 surgiu a oportunidade de tirar um curso de Técnico CAD/CAM que terminei em 2018. Todas as minhas experiências anteriores permitiram-me desenvolver aptidões nesta área, pois bastante do conhecimento de campo que tinha consegui transportá-lo para a parte teórica que me permite ter uma visão ampliada, que inconscientemente retiro de todas as vivências, experiências e sobre tudo dos erros cometidos no meu passado.